segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um curso de datilografia

Ainda quando pequeno, ouvia os mais velhos dizendo que era preciso fazer um curso de datilografia pois quem quisesse trabalhar em escritório não seria contratado caso não dominasse a arte de dedilhar as letras corretamente. A máquina de escrever, grande ou pequena, mecânica ou elétrica, era o equipamento mais avançado em um escritório e, antes da chegada dos computadores, possibilitava a existência de escolas de datilografia. As aulas não mudavam muito de escola para escola. Lições que começavam do bem básico, onde sequências de teclas eram batidas com os dedos posicionados corretamente. Depois, listas de palavras, que pareciam ter saído da cartilha Caminho Suave, iam fazendo com que o aluno fosse ganhando rapidez nas máquinas de escrever. Mais tarde pequenos textos, cartas e memorandos. A prova final, que daria o certificado, era um texto que precisava ser batido no menor tempo possível. O número de erros e o relógio eram os inimigos dos alunos.
Mas isso foi num passado não tão distante. Pouco mais de vinte anos se passaram e o computador passou a ser de fato pessoal. Hoje, todos podem ter um computador em casa e a técnica de apertar letras não se chama mais datilografia e sim digitação e a maneira de se aprender também mudou, e muito, embora as lições sejam praticamente as mesmas. Graças à Internet é possível aprender e treinar sem sair de casa. 
E as máquinas que tiveram seu lugar ao sol, agora passaram a fazer parte dos museus, literalmente, e seguirão associadas a escritores, como Guimarães Rosa que fez uso de uma Remington Rand para compor sua obra.
Num mundo que muda a cada instante e o desenvolvimento da tecnologia parece não ter fim, o charme de bater à maquina ficará na memória de todos os que tiveram o prazer de conhecer esse equipamento. Existia, sim, uma certa elegância em datilografar: era preciso ter cuidado pois uma letra errada e vinha um trabalho enorme para se fazer a correção; os finais das linhas precisavam ser analisados pois alinhar a escrita era um jogo de paciência, onde o botão retrocesso era bastante utilizado; as tabulações davam o ajuste necessário para se compor tabelas; era possível escrever em duas cores, o preto e o vermelho, que dava um  toque especial no texto, quando era o caso.
Os CDs determinaram o fim dos discos de vinil, os DVDs das fitas VHS e, com certeza, o computador decretou o fim das máquinas, que agora já não se fabricam mais. O que importa é que a maneira de se utilizar as mãos ao teclar um texto é a mesma. E o curso de datilografia foi, com certeza, muito útil para quem o fez.