sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nossos Livros...

Filho, dizia meu avô, se você quiser ser alguém nessa vida não faça como seu pai e eu fizemos. Não deixe de aproveitar a escola e procure ser melhor que a gente foi, já estou indo para o final da vida  e o que eu sempre fiz foi isso que você está vendo aqui, "capina" a roça. Seu Geraldo Valério ganhava a vida trabalhando num sítio pequeno, em uma cidadezinha de interior, onde o pão de cada dia era conseguido com o suor do trabalho pesado, e muito suor, literalmente. E eu, de fato, via nesse conselho, uma instrução que deveria levar a sério e seguir da melhor maneira possível. 
Meu pai não tinha dinheiro para pagar um colégio particular e eu segui meus estudos na escola pública, a antiga EEPG e depois EEPSG. Era uma época diferente: tinha que estudar para passar de ano, existia uma cobrança por parte dos professores e não havia a aprovação automática. Não tinha também a internet e era preciso buscar em livros, na biblioteca da cidade, para se fazer os trabalhos que me eram pedidos. A cartilha com a qual aprendi a ler e escrever, mostrou-me desde o início, começando devagar e bem do básico, como construir as palavras e posteriormente as frases. Com o tempo se formaram as sentenças, que se juntaram para formar uma redação, uma carta, um texto. O primeiro livro que li, A Serra dos Dois Meninos, era escrito em bom português e a linguagem coloquial, era restrita à fala dos personagens que encontrei na história.
Não sou nenhum expert em Língua Portuguesa mas procuro escrever da melhor forma possível, e quando tenho dúvidas, e sempre temos dúvidas, procuro um auxílio em um dicionário ou em uma gramática. Sei que existe uma linguagem falada, viva e sempre em alteração, mas ela é a falada. Em nenhum momento fui orientado a escrever de maneira errada.
Agora vejo a notícia  sobre livros de Português com erros grosseiros que jamais pensei encontrar em um livro didático, e pior, aprovado pelo MEC e distribuído a alunos da rede pública. Erros de concordância, grafias incorretas e a dúvida sobre o futuro da educação em nosso país. Eis a conclusão que posso tirar desse episódio: A educação que tivemos no passado está cada vez mais distante e inacessível.
Os conselhos de meu avô eu segui: estudei, passei pelo primário, ginásio e colegial, até chegar ao ensino superior. Gostaria que muitos outros conseguissem fazer o mesmo.
Ao mesmo tempo que deixava os primeiros anos escolares para trás eu acompanha as mudanças que o Estado vinha impondo ao ensino até chegar aos dias de hoje. Agora não basta o sistema de ensino em si ter problemas, temos temos também o material escolar com falhas e erros, que se encaixam perfeitamente ao conjunto.
O que o futuro guarda para a educação no Brasil? Se olho para as mudanças que aconteceram nos últimos vinte anos não consigo enxergar boas coisas. Sempre tive educação pública e nunca reclamei por isso. Pelo contrário, sou grato pelos professores que tive e pelos livros com os quais estudei.
Gostaria muito de repetir o conselho que recebi do meu avô sabendo que meu filho teria um ensino de qualidade e livros bem escritos. Mas se o material didático já vem com erros, as crianças vão estudar e multiplicar o português incorreto para as próximas gerações. Então, boa sorte para todos!